sábado, 24 de novembro de 2012

SOBRE A SAUDADE

Por quê escrever sobre a saudade, se tantas pessoas já destinaram minutos e horas do seu tempo para fazê-lo? Por um motivo simples: a saudade é única e muitas vezes é maior dos que algumas poucas palavras para defini-la.

A saudade é como uma noite de chuva, com seus olhos brilhantes molhados de lágrimas de esperança. A saudade embala os sonhos com os sorrisos antes de dormir. A saudade te faz olhar para o teto enquanto você ama. A saudade faz o mundo girar mais devagar.

É inevitável sorrir quando você sente saudade, assim, como às vezes, é inevitável chorar. Uma, duas, dezenas de lágrimas escorrem pelo rosto. E se você sente saudade, essas lágrimas afagam sua pele com as lembranças.

Assim é a saudade: a cada música que você escuta você tem uma lembrança. A cada lembrança, um perfume. A cada perfume um sabor. Sabor de um beijo. A saudade te faz lembrar de gostos, de cheiros, de sensações.

A saudade inunda a pele, a saudade te faz sonhar bons sonhos. Ela te faz lembrar que o tempo existe ao contar as horas e os dias. Te faz olhar no vazio e mesmo assim se sentir completo.

Sabe, a saudade tem esse poder de oprimir o coração, de te lançar em um turbilhão de emoções contraditórias ao mesmo tempo que te faz a certeza de ser feliz. A saudade é a vontade de estar junto o tempo todo, é saber que a distância um dia vai acabar.

A saudade te faz voltar aos mesmos lugares, às mesmas pessoas, aos mesmos sonhos. Essa estranha força te faz caminhar mais rápido, te faz sonhar ainda mais, te faz sorrir sem motivo.

Não, a saudade nunca é falta. É a vontade de que a frase "eu queria que você estivesse aqui" pudesse se tornar realidade neste momento. Mas, nem sempre isso é possível e é justamente a saudade que nos faz seguir em frente.

Tem-se saudade por amar, tem-se saudade por gostar, tem-se saudade por sentir falta. Mas não importa o motivo, a saudade não precisa de motivos. Ela vive de expectivas; ela se alimenta de vontades, ela toca a alma com a sutileza do perfume de uma rosa.

É a saudade que se transforma naquele abraço apertado. É a saudade que se desmancha com aquele beijo apaixonado. É a saudade que nos faz sorrir com as lembranças de momentos que não podemos ter de volta.

Por isso que eu digo que a saudade é como uma noite de chuva: te embala os sonhos com sua música, com o seu cheiro de terra molhada e com a certeza que por trás da nuvem da saudade, há um novo dia sendo preparado, onde a saudade sai de cena e dá espaço para todos os momentos que foram desejados. Sim, porque a saudade é humilde e sabe que estava ali para manter o amor vivo, para que o sentimento não se perdesse, para que os sorrisos pudessem voltar mais vivos e fortes, em um novo dia de sol.

Niterói, noite chuvosa de 24/11/2012

sexta-feira, 23 de novembro de 2012

TRILHAS SONORAS E RETORNOS

A própria definição da palavra "ciclos" traz nela toda mágica do seu significado. Com começos e fins, com renovações e repetições, os ciclos nada mais são do que uma oportunidade de se reinventar, de fazer melhor na nova oportunidade ou até mesmo de tentar o novo.

Muitas vezes nos apegamos às coisas e às pessoas, mas esquecemos que a vida segue o seu rumo natural. Podemos até mudar o curso dos rios, mas nunca tiraremos da alma da água seu objetivo final, que unir-se ao mar. Assim somos nós, que só encontramos a totalidade quando mergulhamos fundo no desconhecido oceano da vida.

Ciclos terminam e começam todos os dias. Uns trazem mais impacto, outros apenas pequenas transformações. Nada é perene. Tudo está em constante transformação. Podemos ser os atores principais da nossa vida ou apenas sentarmos em um banco e esperar o tempo passar. Tudo são escolhas.

Hoje, as escolhas me levaram a um caminho. Um ciclo foi fechado. Uma oportunidade de começar novamente e uma escolha: ser mais do mesmo e ter que se reinventar ou ser algo novo? Em um daqueles raros momentos da vida a cabeça diz não e o coração concorda com ela: razão e emoção dizem a mesma coisa.

Não quero nada na minha vida que me afaste dos meus sonhos. Não quero nada na minha vida que me afaste das pessoas que eu amo. Há muito tempo eu decidi não ser o que as pessoas querem de mim e pago esse preço. Sonhar e ser autêntico custa caro, mas não mais do que a saudade ou o amor.

Na trilha sonora da vida toca uma música que eu não gosto. Talvez seja a hora de mudar de estação. Retorno à rádio antiga ou vou a uma rádio nova? Tudo depende da música que eu quero ouvir na minha vida. E você, já decidiu qual é a trilha sonora da sua?

quinta-feira, 22 de novembro de 2012

UM PRODUTO DO SISTEMA

Tem uma frase que circula aqui na Internet que diz algo como: "Você não é derrotado quando você perde e sim quando você desiste de lutar". Hoje, posso garantir: sou um derrotado. Não tenho mais forças para lutar contra o que querem de mim. O sistema quer que eu seja um macho alfa sedutor, amante de futebol e boêmio. Eu não sou assim. O sistema quer que eu julgue as pessoas pelo que elas tem ou pelo que elas fazem. Eu não sou assim. O sistema quer que eu seja forte e sobreviva a todas as vissicitudes da vida. Eu não sou assim. O sistema quer que eu seja perfeito, que molde o mundo à minha realidade. Eu não sou assim. O sistema quer que eu fale o tempo todo de mulheres, que eu seja "comedor", que eu seja escravo do prazer, que eu somente pense em sexo. Eu não sou assim. O sistema quer que eu seja o profissional, o marido, o filho, o amigo, o colega, o chefe perfeito. Eu não sou assim. O sistema quer que eu aceite meias verdades, que eu seja um cliente perfeito, que eu use crédito com responsabilidade. Eu não sou assim. O sistema quer que eu siga uma ideologia, uma religião, uma orientação. Eu não sou assim. O sistema quer que eu sorria, que eu engula, que eu dissimule. Eu não sou assim. O sistema quer que eu viva de ilusões, que eu acredite no amor perfeito. Eu não sou assim. O sistema quer que eu me comova com facilidade, que eu retribua com afeto o egoismo e a indiferença. Eu não sou assim. O sistema quer que eu comemore todas as vitórias, que eu vibre a cada conquista. Eu não sou assim. O sistema quer que eu seja receptivo a tudo a a todos, que eu respeite os limites. Eu não sou assim. O sistema quer que eu seja magro, que eu tenha cabelos lisos, que eu tenha olhos azuis, que eu não tenha espinhas. Eu não sou assim. E por não ser o que o sistema, meus amigos, meus amores, meus superiores esperam de mim, eu desisti de lutar e aceitei a derrota. Só não desisti do amor de Deus e sei que ele vai me mostrar um caminho, para que eu não desista também de acreditar... Brasília, 15 de Junho de 2012